Capa
do volume 1 da Coletânea Ladjane Bandeira de Poesia.
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CONCURSO
LADJANE BANDEIRA DE POESIA - EDIÇÃO 2006 |
Ano 2006 - ISBN
85-7044-148-7 |
QUE VENHA A NÓS A POESIA
Texto de Cida Pedrosa
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Participar
como julgadora do processo de seleção do 9°
Concurso Ladjane Bandeira de Poesia, promovido pela Biblioteca
Pública de Afogados, órgão da Prefeitura
do Recife, foi uma experiência ímpar. Pensei que
eu e minhas amigas de ofício, Elizabeth Siqueira e Janice
Japiassu, receberíamos para ler e julgar 300/400 poemas.
Para minha surpresa me afoguei num mar de 1.800 poemas escritos
por 330 poetas, de todos os tipos, cores e matizes.
Não podia imaginar que tanta gente estava escrevendo, que
tanta gente está disposta a participar de uma seleção
de concurso de poesia. Não vai aqui qualquer juízo
de valor da qualidade literária de todoslos os inscritos
e sim uma constatação de que a a palavra escrita
se encontra viva e voraz no coração das pessoas.
A palavra ainda é um mantra e faz parte da salvação
da humanidade.
Por minhas mãos e meus olhos passaram poemas, confissões,
declarações, textos em prosa e cartas: de amor,
de revolta, de oprimidos, de sexo e de gargalhar. Tudo em nome
do dizer para o outro do seus sentimentos, do acreditar que a
arte pela palavra é possível.
Para mim isso tudo tem um significado importantíssimo.
A Biblioteca Pública de Afogados está cumprindo
a sua função social de aproximar a comunidade da
leitura e do gosto pela escrita. De tornar a Biblioteca um espaço
vivo a ser construído por todos e, principalmente, o de
desenvolver um sentimento de pertença entre a comunidade
e a instituição de livros, sentimento este que deságua
na forma efetiva com que se deu a participação no
Concurso Ladjane Bandeira de Poesia.
Ao final escolhemos 10 ( dez) poetas que traduziram de forma equilibrada
a opinião das três julgadoras. Alguns foram escolhidos
por consenso entre as três e receberam 3 (três) votos,
outros foram acordados entre duas e venceu o voto da maioria,
como manda a boa lição de democracia.
O que importa é que entregamos aos leitores os poetas:
Alan Luna e seu Receituário de poesia: A poesia faz-se
assim: / Dando às palavras/ Tratamento de roupa de domingo;
Cecília Flor, a se revelar a partir de inventos: A faca
enferrujada assinalando o lugar em que seu pensamento não
era mais dela;
BeniLson Toniolo, de poesia bucólica com cheiro de fim
de tarde: meu pai catava morangos/ de joelhos sobre a terra! ia
orando ia pedindo! coisas que ninguém sabia;
Cleison Pereira Ribeiro cujo canto, forte e belo, desassombra
as almas: Meu canto entristecido / gasta seus últimos lamentos
/ com a palavra esperança.
Eduardo Lacerda, poesia instigante para se ler e pensar: -Nunca
acenda velas em casa, / que os espíritos
acostumam/ e não raro nos acompanham.
Elias Antunes, cheio de indagações e transcendências,
é esta poesia: Tenho apenas o osso, / O sacrificio da ausência/
indomável/ semente do nada.
Fátima Barros, jogo de mar e palavras, letra mínima
e substancial. A poesia aqui é possível: vão
batéis / e parágrafos: / -no cais, / lua e linguagem...
Jonathas Nunes dos Santos, de ironias, cotidianos e urbanidades
é esta poesia: Lá vem vindo a morte/ vem vindo,
/ com falhas nos dentes/ sorrindo amarelo.
Josemar dos Santos, seus temas são o amor, a solidão,
a dor e a morte: Eu não estava só, / Tanto que vi
a morte/ dizendo estar a minha procura.
Marcos de Oliveira aqui o poeta se debruça sobre ele mesmo
e o fazer poético: O/ poema/ pisa/ leve/ para/ não/
machucar/ a/ relva. Ah.
Espero que estes poetas alcem vôo rumo aos leitores e se
efetivem como parceiros das palavras. Parabéns à
Prefeitura do Recife, à Biblioteca de Afogados e à
Gerência de Literatura e Editoração, pela
forma democrática com que esta coletânea de poemas
chega ao público, o que a meu ver dá continuidade
ao projeto de publicação coletiva e plural iniciado
em 2002. Que venha a nós a poesia, que outros concursos
aconteçam e que outros poetas apareçam.
Cida Pedrosa
Recife, 22 de maio de 2006
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