Ele
era assim como uma criança de papel-de-seda
Exposta a sol e chuva
Que afinal o destruíram.
Ele era assim como um barquinho de jornal sem data
Ou um balãozinho flutuando, ou uma estampa.
Ou qualquer coisa muito terna e muito frágil
Como uma bandeirola numa festa popular.
Ele
era assim como um domingo de olhar festivamente triste
Desacompanhado na própria multidão.
Ele era assim como um crepúsculo à beira-mar
Cuja beleza e imensidade abatem a gente
Porque obrigam a estabelecer desvantajosos paralelos.
Ele
era uma árvore sob a qual morreram pássaros cantando
Tão suave, tão transparente, tão tranquilamente
humilde e alongado
Que se dava aos outros como uma saudação
Antecipada à uma ausência imensurável
Ah!
Ele era assim como uma estranha flor
Construída com cuidado
Por mãos familiares
Tão simplesmente som
Tão simplesmente gesto
Tão simplesmente olhar
Que se dissolveu no tempo e na distância
Sem partir e sem chegar.